Nesta que é a sua primeira exposição individual na Galeria das Salgadeiras, Martinho Costa apresenta um conjunto de pinturas que nos remetem para situações de ócio, em pleno estio e rodeadas de uma cor imensa, onde o claro e o escuro mais que resgatados de uma realidade (supostamente) aqui representada, constituem mecanismos de acentuar um mistério à narrativa. Na verdade, a Martinho Costa importa mais a interpretação da realidade do que o seu mimetismo ou mesmo um realismo, interessa-lhe a banalidade da situação à qual a sua pintura algo terá a acrescentar.


Partindo das suas próprias imagens, é no atelier que Martinho Costa reverte, subverte, inverte esse tal “real”, atentando a alguns detalhes da cena, da paisagem, de um qualquer movimento de onde pode surgir uma nova história, desconstruíndo o que a imagem original nos diria. No silêncio, na sombra, na agitação ou no recato, temos alguma figuração que humaniza o contexto, paisagens sem horizonte, extravasando, assim, o género artístico para outras acepções, que cruzam um certo impressionismo de Manet e essa ideia da pintura-pintura, livre, porém contida pelo próprio referencial da imagem original. O referente é, aliás, muito importante no processo artístico de Martinho Costa, não só porque lhe permite criar uma distância emocional e subjectiva da situação concreta, como pelo seu lado epifânico.


Dizia Picasso, a propósito da sua prática artística: “je ne cherche pas, je trouve”, e em certa medida, num tempo em que até os motores de busca incluem nos seus algoritmos filtros e critérios que estão para além da relevância, é também essa a acção subjacente ao processo de Martinho Costa. Há um deambular pelo território, perscrutando o que o rodeia, uma acção que se reflecte na tela: o que desencadeia o interesse de Martinho Costa? Vamos à procura, sabendo que, qual «motor de busca», aquilo que nos é indiciado revela desde sempre uma subjectividade.